Agência oficial do evento
|
Simpósios Temáticos |
Voltar |
Título: História Política: pensamento e interpretação |
Proponentes: Ricardo Silva (Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UFSC), Tiago Losso (Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis – CESUSC) |
Descrição: No começo da década de 1950, um dos mais ilustres precursores da chamada “revolução behaviorista” na ciência política argumentava que o progresso de sua disciplina encontrava-se bloqueado em razão das deficiências do estilo de teorização política então predominante. David Easton lamentava o fato de que a teoria política continuava “vivendo parasitariamente de idéias velhas de mais de um século”, incapaz de estimular a construção de um “quadro de referência empírico e causal para a disciplina”. A principal responsabilidade por esse estado de coisas era atribuída à obsessão dos teóricos com o tipo de “análise histórica” da teoria política. Além de realizar-se exclusivamente em função da elaboração “criativa” de um “quadro de referência valorativo”, inibindo o estudo dos “fatos empíricos” da vida política, a análise histórica da teoria política resultava no “desvio de atenção e energia dos teóricos políticos da tarefa de construir uma teoria sistemática sobre o comportamento político e a operação das instituições políticas” (EASTON, D. (1951). The decline of modern political theory. The Journal of Politics, vol. 13, n. 1, pp. 36-58.).
Independentemente dos erros e acertos desse diagnóstico nas circunstâncias de seu surgimento, o fato é que, passado mais de meio século de sua formulação inicial, têm-se observado claros sinais de revitalização do interesse de cientistas políticos na historicidade de seus objetos de estudo e na natureza interpretativa do conhecimento gerado nos domínios de sua prática disciplinar. Neste particular, a ciência política vem experimentando, talvez até de modo relativamente tardio, influências que passaram a afetar o conjunto das ciências sociais desde década de 1960, quando novos desenvolvimentos em disciplinas como a filosofia da ciência, a filosofia da linguagem, a hermenêutica e a crítica literária passaram a fazer parte dos debates entre historiadores, antropólogos e sociólogos.
É certo que esse amplo movimento de idéias em favor do diálogo com a historiografia tem se revelado essencialmente multifacetado, abrigando diferentes perspectivas de conformação, abrangência e funcionamento. Porém, para além das divergências, há uma percepção em comum de que as metodologias e as técnicas heurísticas apropriadas às ciências humanas não podem passar ao largo da temporalidade dos fenômenos sociais e políticos e da natureza igualmente temporal e, além disso, inevitavelmente interpretativa do conhecimento sobre tais fenômenos. A história surge, portanto, como uma parceira da reflexão sobre o político, compreendido em seu sentido mais amplo. Esta convergência já pode ser notada também ao atentarmos para o aumento da importância da política em autores como Jean-Pierre Rioux (RIOUX, Jean–Pierre. Pode-se fazer uma história do presente? In: CHAVEAU, Agnès. Questões para a história do presente. Bauru, SP: EDUSC, 1999. p.39-51.).
Estas preocupações têm orientado uma série de pesquisas substantivas e metodológicas que vêm sendo desenvolvidas no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Pensamento Político e História Intelectual, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do Brasil, mantido pelo CNPq. A produção do Grupo é orientada no sentido de acompanhar o debate protagonizado por influentes historiadores do pensamento político cujas idéias contribuíram decisivamente para a recuperação do interesse na dimensão histórica e interpretativa da teoria política nas décadas recentes. Capitaneado por autores como Quentin Skinner, John Pocock e John Dunn, o “contextualismo lingüístico” da chamada “escola de Cambridge” de história do pensamento político tem recebido grande atenção da crítica desde suas primeiras elaborações nos idos da década de 1960. Embora os autores associados a tal abordagem apresentem-se como historiadores de profissão, não nos parece exagero afirmar que tanto suas elaborações metodológicas quanto suas contribuições mais substantivas exemplificam um estilo historicamente orientado de teoria política.
Esta orientação histórica da reflexão sobre a política conduz o pesquisador à problemas típicos do trato com o passado, indicando a necessidade de um diálogo sistemático com a produção historiográfica, rica em sugestões capazes de lidar com as eventuais dificuldades e peculiaridades deste tipo de perspectiva investigativa. Investigar a política lidando com suas múltiplas configurações, dispersas temporalmente e geograficamente, contextualizando e interpretando seus significados transforma-se em um empreendimento não sujeito a amarras disciplinares . Assim, este Simpósio Temático objetiva criar um espaço multidisciplinar para exposição e discussão de pesquisas substantivas e metodológicas que confluam para uma interpretação de cunho histórico do processo de elaboração e circulação de idéias políticas. |
|
|
|