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Mini-cursos |
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Título: Missão por redução: experiências americanas |
Proponentes: Leny Caselli Anzai (Universidade Federal do Mato Grosso), Maria Cristina Bohn Martins (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) |
Descrição: RESUMO: Como instituição colonial, as reduções diferenciaram-se segundo as circunstâncias históricas e as particularidades étnicas e regionais de onde existiram, assim como segundo as intenções de seus fundadores e responsáveis. Daí que a “missão por redução” tenha sido ” um método e uma história, um modo de proceder e uma atuação do mundo colonial . A partir desta compreensão é que a proposta deste Curso se inscreve na perspectiva de considerá-las como uma experiência de múltiplas facetas a serem exploradas nos encontros previstos, conforme detalhamento que se segue.
JUSTIFICATIVA: As missões fizeram parte de uma estratégia de ocupação do território americano por parte das Coroas ibéricas; constituíram-se em um instrumento de controle de certos territórios de fronteira, especialmente em regiões em que os poderes coloniais enfrentavam dificuldade no controle sobre a população indígena. Atenderam, ainda, a necessidade de concentração dos índios em povoados estáveis para facilitar o controle e a cobrança de tributos. As missões também foram, desde o princípio, um modelo de evangelização do qual se valeram algumas ordens religiosas em seu trabalho missionário. Muitas vezes, depois de esgotadas as possibilidades das chamadas “missões volantes” – em que a presença dos religiosos era efêmera – optou-se por uma presença permanente junto às populações a serem convertidas e doutrinadas. Neste sentido elas podem ser definidas como uma estratégia de “civilização”, uma vez que se entendia necessário conduzir os índios às pautas de uma vida “política e humana” como requisito inicial para o sucesso da evangelização.
Experiência concreta no México desde a década de 1530 – a partir das iniciativas de J. de Mendieta – , elas foram a base de toda a organização que o vice-rei F. de Toledo ditou no Peru durante a década de 1570 – 1580. Foi assim que, com o propósito de reunir aos índios facilitando a cobrança do tributo e a obtenção de mão-de-obra, experimentou-se um modelo de aldeamento no povoado de Santiago - El Cercado – confiado aos cuidados dos religiosos da Companhia de Jesus. O padre B. Cobo, descrevendo-a em 1630, atesta sobre a importância e a estreita relação estabelecida entre a redução e a cidade de Lima de los Reyes: Este povoado e bairro são de grande auxílio e comodidade para esta cidade porque para ela trazem muitas cestas de legumes, aves, ovos e outras coisas deste gênero. Muitos destes índios são ótimos músicos de vozes e instrumentos e oficiam também uma missa como na melhor capela de qualquer igreja catedral . Embora algumas tivessem, portanto, se assentado em locais próximos aos meios urbanos, em geral as reduções floresceram em regiões afastadas, atendendo à considerações práticas do trabalho da catequese. Isto é, embora a separação dos índios aldeados dos marcos da colonização espanhola não tenha sido total, optou-se por favorecer o seu distanciamento daquilo que se considerava como “riscos” dos “maus exemplos” que provinham de crioulos e mestiços.
Como instituição colonial, as reduções diferenciaram-se segundo as circunstâncias históricas e as particularidades étnicas e regionais de onde existiram, assim como segundo as intenções de seus fundadores e responsáveis. Daí podermos concordar com a afirmação de que a missão por redução é um método e uma história, um modo de proceder e uma atuação do mundo colonial .
Considerando que “reduzir” significava, em primeiro plano, desenhar para estas sociedades novos padrões de territorialidade (com todas as decorrências resultantes desta política), entendemos que a proposta deste mini-curso é pertinente ao universo das questões apontadas pelo tema geral do XXIV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA: História e Multidisciplinaridade – territórios e deslocamentos.
DETALHAMENTO:
1º ENCONTRO: Tema: A missão por redução e a colonização da América.
Este primeiro encontro pretende situar os participantes dentro da temática mais geral do Mini-Curso, ou seja, dos objetivos, significados e ações envolvidos naquilo que Antônio Ruiz de Montoya (1639) definiu como a “Conquista Espiritual”. Trataremos, além disto, de avaliar as diversas experiências americanas de missão por redução: das jesuíticas no Paraguai, àquelas experimentadas pelos franciscanos na Califórnia ou ainda as amazônicas; das experiências mexicanas às peruanas do século XVI, etc.
Ministrante: Prof Drª M. Cristina Bohn Martins – UNISINOS
2º ENCONTRO: Tema: Missões: Territórios diversos, múltiplas fronteiras. Práticas culturais no movimento de ocupação e reocupação dos espaços.
O segundo encontro tomo por objetivo a análise das múltiplas práticas culturais postas em ação pela política reducional. Estaremos interessados em avaliar não apenas as dinâmicas estabelecidas no âmbito das relações imperiais em territórios cujas fronteiras estavam em construção, como também àquelas que se situam no escopo das relações interculturais. Consideraremos especialmente as decorrências das políticas de reterritorialização das sociedades indígenas e os movimentos de ocupação e reocupação dos espaços daí decorrentes, com enfoque especial nas missões de Moxos e Chiquitos, então localizadas no atual oriente boliviano. Ministrante: Prof Drª Leny Caselli Anzai – UFMT
3º ENCONTRO: Tema: Missões: práticas culturais na zona de contato
O terceiro encontro priorizará a análise das missões como espaço definido a partir de uma relação estabelecida entre índios e missionários. A partir desta perspectiva, a missão será percebida como uma relação construída no tempo, definida pelo equilíbrio de poderes, pelo exercício da autoridade e pela negociação no âmbito do cotidiano. Perpassada por aproximações e desconfianças, esta relação entre índios e missionários será enfocada a partir deste amplo processo de negociação que se expressará diretamente ou através da manipulação de símbolos de poder. Ministrante: Prof Drª Eliane Cristina Deckmann Fleck – PPGHISTÓRIA/UNISINOS
4º ENCONTRO: Missão por redução: experiências americanas – questões metodológicas e balanço historiográfico.
Tema: O último encontro pretende sistematizar as discussões no âmbito da reflexão teórica desenvolvida ao longo dos três primeiros momentos do mini-curso. Consideraremos aí as contribuições da Nova história indígena, da História social, da História antropológica e da Etno-história para a construção do conhecimento dentro deste a área de especialidade. Esta reflexão será acompanhada (e fundamentará) um rápido balanço historiográfico sobre o tema. Ministrantes: Eliane C. Deckmann Fleck, Leny Caselli Anzai e Maria Cristina Bohn Martins.
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